sexta-feira, 3 de maio de 2013

A menina que tinha medo e a "mão traceur" amiga


Paulo Henrique Duracell (P.H): Tu já subiu aqui nega?
Rebeca Medeiros: Eu não. Ainda tá cedo.
P.H: Cedo o quê? Vem que eu te ajudo.
Eu: Nada. Não to preparada ainda não.
P.H: Vem mulé. Eu num to aqui?
Eu: Tá bem. Eu só vou subir no ferro pra ter uma ideia da altura...oxe! Tá doido é? Subo nada. Não agora.
P.H: Menina. Nem subisse ainda e já tais com medo?
Eu: Peraí. Mas vamos com calma. Hoje eu subi no ferro, na próxima semana eu sento aí em cima.
P.H: Deixa de besteira, você vai subir é hoje.
Eu: Peraí. Eu tô nervosa. Deixa eu me concentrar.
P.H: Não esqueça. Eu to aqui em cima pra lhe segurar, é só você subir e sentar, depois você tenta ficar de pé.
Eu: Não Paulo. Se eu subir, ficarei sentada só pra ter noção da altura. Já quer que eu fique de pé? Tá muito cedo. Eu tenho muito medo de altura. Você não tem noção não.
P.H: Vai muié, deixa das tuas frescuras, tem que ser macho.
...Nesse momento os meus braços estavam altamente suados (tenho distonia nas mãos e nos pés pra variar), escorregadios no muro, eu suava frio, e climbei toda sem jeito como quem me conhece ou já viu, sabe como é. Quando eu subi naquele muro e olhei pro outro lado dele, vi aquela grama lá embaixo verdinha e molhada, sentei meio bamba no muro e comecei a tremer...
P.H: Aê mulé. Já tais sentada olha aí, agora descansa que você vai ficar de pé, é só dizer quando estiver preparada.
Eu: Que de pé o quê rapaz. Não ta vendo que eu to passando mal aqui, olha como eu to tremendo, tô tonta de nervosa, vou vomitar.
P.H: Ixi!  Vai vomitar é nega? Vomita pro lado da grama vissi. Não vomita em mim não.
...Enquanto isso, do outro lado do muro, estava David Tavares tentando fazer com que Guilherme Gusmão subisse também,  o qual também não havia subido antes... E eu ficava nervosa com o apelo dos meninos naquela hora. A única coisa que me vinha na cabeça era olhar pro chão que tava lá embaixo, tremer e vontade de vomitar.
 P.H: Oxente nega. Tais branca. Que isso hein? Quando estiver pronta pra ficar em pé, estou aqui pra lhe segurar.
Eu: Calma, Paulo! Pede pro pessoal parar de falar, se ficarem me cobrando não dou um passo. Finjam que eu não estou aqui.
P.H: Fica em silêncio aí pessoal, pra mulé se concentrar aqui.
...
E QUANDO TUDO FICOU TRANQUILO, INCLUSIVE A MINHA MENTE...
Eu: Eu vou ficar em pé.
P.H: Pronto! Segura na minha mão. Não faça nenhum movimento agitado e nem me puxe bruscamente, eu vou lhe ajudar a manter o equilíbrio. Se você fizer alguma  coisa, pode machucar a mim e a você. Vamos, fique de pé, eu confio em você. Tô confiando que você vai conseguir........... olha aí,ficou de pé...
Eu: Ai, minha nossa, é muito alto!!! Eu não posso olhar lá pra baixo, olhar os prédios do meu lado...ai não...
P.H: Tem que olhar pra baixo mesmo, tem que ter noção da altura que você está. Você acha que vai cair?
Eu: Claro que não! Eu não vou cair. Se cair me machuco e não estou afim de me machucar. Quero andar por cima desse muro.
P.H: É isso aí nega. Pense assim mesmo, agora vai dando passos que eu vou te acompanhando.
...No começo eu arrastava os pés que mais parecia um tratamento de fisioterapia, eu não dava passo algum, só arrastava os pés..em seguida fui dando arrastadinhas para trás...depois dei passos  de verdade pra frente e para trás, depois de olhos fechados, e por fim...
P.H: Já pode ir solta nega?
Eu: Posso... Posso sim... E fui andando pelo muro tensamente, mas por dentro satisfatoriamente, depois eu pedi pra Paulo me segurar mais uma vez e ainda brinquei de bailarina levantando uma das pernas para trás, precisava descontrair, tava muito nervosa.
P.H: Olha “ah muleke”! Já tá tirando onda aqui.
...Enquanto isso Guilherme, estava sentado com medo de ficar em pé também, Mas depois que Tavares deu umas surras nele ,ele se levantou e passeou também...srsrsrs
......................
Cara, alguns devem estar se perguntando “Ela tá falando daquele murinho amarelo lá da jaqueira? Que mulé frouxa! “
Eu tô falando de uma pessoa que tem medo de altura e pânico de ficar só, que deu uma surra nos seus medos e venceu mais uma etapa na sua vida. Eu tenho certeza que subir naquele muro não foi simplesmente uma superação na minha evolução no parkour, mas mexeu também com o meu caráter. Quando eu subi, senti que não existe medo que não possa ser dominado. A tensão vem sim, o pânico, os tremores, os enjôos, e mais um passo e tudo são sorrisos e satisfação, é tão gostoso.
Uma coisa que me entristece muito e que infelizmente sempre tem em nosso meio, são aqueles que te vêem e dizem “Nossa, ela ta há quantos anos treinando mesmo? Vai fazer 3? E não sabe fazer nada direito! Eu conheço a fulaninha que em 1 ano e  já manda várias coisas” ou até quando você está tentando mandar um movimento e alguém diz,” vai, fulaninha fez, tenha vergonha. Você não vai fazer isso? Ixi! Tu és medrosa vissi bixinha.”
A única coisa que eu tenho a dizer é que lamento por vocês  que postam vídeos e mais vídeos cheios  de beleza ,querendo se promover, se satisfazem mais com as bajulações dos outros do que a satisfação de evolução. Se não te disserem que você evoluiu você não acredita. Porque ta mais preocupada em superar o parkour dos outros que enfrentar o seu próprio percurso.
Mas também já vi muita gente que manda muito bem e não abre mão de te ver fazendo os movimentos errados  e dizer,” deixa eu te ajudar, é assim ,olha, parece difícil , mas sua mente precisa entender que você consegue.”
Uma vez uma pessoa me disse, “Rebeca, deixe melhorar seus movimentos pra gravar um vídeo, você ainda não os domina totalmente, até pra ninguém ficar lhe criticando.” No começo eu achei que essa pessoa tinha razão, mas agora  qualquer movimento pra mim, belo ou não, gosto de registrar, porque eu sei que posso um dia fazer melhor . Será que alguém já viu o meu 1º vídeo, como eu me movimentava? Será que viram o de agora, Como eu estou melhorando? Eu não sou burra que não sei que estou muito desastrada ainda, mas esse é o meu corpo, essa sou eu. Em 3 anos eu só faço isso? Pois é. Com muito orgulho por tudo que aprendi “ainda” faço só isso. Acredito que muitas pessoas deixam de treinar  por causa da insensatez dos outros com as brincadeirinhas de mal gosto ao invés do companheirismo. Fico triste às vezes por não evoluir como os outros que começaram bem depois de mim, mas entendo agora que minha mente não é a sua, sua coragem não é a minha, seu tempo e rotina de treino são bem diferentes dos meus.
Sabe, eu não quero ser melhor que um outro, ou que outros, só quero mostrar pra mim mesma que posso ser melhor do que faço todos os dias. Não gosto de aparecer, não gosto de pisar em ninguém, gosto de chamar a atenção dos outros às vezes porque é importante que estejam me observando naquele momento. Gosto dos bons amigos e de boas companhias, e tenho a consciência limpa de dizer que quebrei a cara com pessoas que eu dizia que não iam pra frente, só assim eu aprendo quão fútil são as pessoas que perdem tempo apontando os outros. Reconheço meus erros e digo aqui o quanto já ri e acusei algumas pessoas que hoje me ensinam e nem sabem disso. Deus sabe exatamente como me ensinar a viver. Uma vez, uma amiga que amo muito e irmã em Cristo me disse,” Não queira ser como uma fruta madura, quando somos maduras,  logo apodrecemos e caímos da árvore, queira ser como a fruta verde porque sempre vai estar próxima a outras que também crescerão com você e você crescerá com elas, as quais são dependentes da água da vida que Jesus vem nos regar.” Deus tem muito a nos ensinar e não somos ninguém sem Ele. E eu me alegro por viver próxima a pessoas tão maravilhosas que sempre me ensinam a ser melhor do que sou hoje(falar de vocês já se tornou clichê,mas não me importo). Descobri que a gente não vive pra ensinar a outros uma lição. Mas que toda a vida aprendemos uma lição que é lecionar a nós mesmos.
Nos finalmentes quero parabenizar Guilherme Gusmão
, que assim como eu, sofreu psicologicamente pra subir naquele muro. Nós conseguimos vencer o gigante amarelo...srsrsrs
Agradecer a David Tavares
, a Zad Acioly pelo bocão e a paciência, assim como Gustavo Gusmão,
e a Paulo Henrique Duracell,
que sempre abre a mão pra ajudar quem quer que precise. Pra me treinar tem que ser muito paciente, é difícil, nem eu me agüento as vezes....rssrsrs
Parabenizar a Laysa Moraes que só treina a 4 semanas e já anda em cima do corrimão, só falta correr....rssrsrs, só tenho que te elogiar, isso é só o começo.
Parabenizar a Juliane Isla, que só tive a oportunidade de treinar uma vez , porque sempre que eu chego pra treinar, é hora d’ela ir pra casa, mas pelo que andei ouvindo está evoluindo pacas e eu estou muito orgulhosa de ter novas companheiras de treino.
E agradecer aos calangos urbanos, meus amigos, família, rasgo o sorriso quando vou treinar com vocês.
E lembrem-se, que se quiser evoluir que seja pra você mesmo , a única coisa que os outros devem esperar de você é que você dê a mão para que evoluam como você conseguiu.
No parkour as pessoas não podem ser sua platéia, as mesmas tem que estar no palco com você , dividindo o mesmo cenário, compartilhando suas experiências e sensações.
Como acho que já falei demais, irei parar por aqui.


Só pra relembrar...meu 1º vídeo de parkour...



...E o meu vídeo mais recente...


...E o mais novo vídeo inspirador dos Calangos urbanos, com a participação de Juliane Isla...


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